Conselhos práticos para ordenar os estudos
Na primeira aula de nosso curso Filosofia Ética, Jurídica e Política Tomista, tratamos da vida intelectual e de métodos para ordenar os estudos e aprender melhor. Este artigo é um enxerto de uma pequena parte da aula, a fim de que aqueles que perderam a inscrição no curso possam também ser beneficiados.

1. Clareza de objetivos
Em primeiro lugar, é necessário ter clareza dos objetivos firmados no estudo a ser feito. Alguém que estuda para passar num vestibular não se comportará da mesma maneira que aquele que estuda pelo simples benefício de conhecer.
Em segundo lugar, a partir dos objetivos estabelecidos, convém ordenar o estudo com um método que permita reter na memória o conteúdo e, ao mesmo tempo, não exija que o estudante negligencie os outros aspectos de sua vida, tais como as relações familiares, o descanso e o cuidado com seu lar.
Em vista disso, é essencial montar um plano de estudos, tendo em vista o tempo disponível para cada uma das disciplinas a serem abordadas e as condições locais em que a pessoa se encontra. A seguir, apresentamos alguns tópicos a serem contemplados no planejamento e na execução.
2. Quatro espécies de leitura
Em sua obra A Vida Intelectual, Sertillanges exorta que não se deve procurar a todo e qualquer livro com a mesma “sede”. Deve-se procurar um livro já sabendo o que se quer realizar com ele, isto é, a espécie de leitura a ser executada; e cada espécie de leitura possui suas próprias exigências. O autor propõe quatro principais: fundo, ocasião, estímulo e repouso.
A leitura de fundo exige docilidade. Após eleger um bom mestre, é necessário deixar-se guiar por ele, acreditar no que ele diz. Não se trata de entregar-se às cegas, pois o mestre não é infalível; mas é preciso saber que o aluno é mais falível que o mestre e, antes de criticá-lo, é necessário receber e entender o que ele ensina. O mestre forma o espírito do aluno, o que o marcará por toda a vida.
A leitura de ocasião, por sua vez, exige maestria. É a leitura feita para um trabalho específico. Seu papel não é formar, mas apenas informar. É uma leitura que busca somente a utilidade, como quem vai a um jornal para descobrir as notícias do dia. Quem a realiza, integra as informações naquilo que já conhece.
A leitura de estímulo exige ardor. Seu objetivo é reavivar o gosto pela leitura, que é prejudicado nos dias de aridez. Quando o gosto pelo estudo é prejudicado por algo, vale retornar àquele livro favorito que acende a chama interior; porém, não se pense que a vida intelectual se alimenta somente do prazer. A leitura de estímulo é apenas um recurso em caso de necessidade.
Por fim, a leitura de repouso exige liberdade. O verdadeiro descanso não é a ausência de atividade, como faz o ocioso, mas sim uma atividade menos exigente e, na medida do necessário, prazerosa. A leitura de repouso, portanto, serve para o descanso; e a seleção do que ler é menos exigente, embora seja salutar ler clássicos da literatura, os quais têm um ideal de perfeição mesmo sem a pesada carga conceitual.
Ao montar o plano de estudos, e selecionar os livros a serem lidos, é preciso tomar o cuidado de: i) medir qual espécie de leitura é mais necessária para o seu estágio atual; ii) selecionar somente os livros necessários para seu objetivo, e em conformidade com as espécies supracitadas; iii) organizar o calendário semanal, de forma que cada disciplina seja contemplada.
Indo além, reserve o tempo adequado para cada espécie: 15 minutos para a leitura de fundo e 2 horas para a leitura de repouso não seria nada razoável; convém que as coisas sejam ordenadas hierarquicamente pela sua importância.
Tudo isso precisa ser levado em consideração ao calcular e dividir o tempo que você tem livre para estudar.
3. O que se deve, em que ordem e como fazer para reter
A mente é como uma árvore frondosa: as raízes sustentam o tronco e alimentam os diversos galhos. As ideias fundamentais são as mais importantes, pois, a partir delas, a mente pode remontar toda uma sequência de argumentação e, por pura lógica, chegar às conclusões que já estavam contidas nas premissas.
Eis, então, uma proposta de retenção por ordem de importância: i) as ideias mestras (ou teses fundamentais); ii) os argumentos contrários e os favoráveis às ideias mestras; iii) os desdobramentos dessas ideias nas diversas áreas do saber.
E para reter tudo isso na memória, Sertillanges, remetendo a Tomás de Aquino, propõe quatro regras: i) ordenar o que se quer reter; ii) aplicar profundamente o espírito; iii) meditar nisso com frequência; iv) quando precisar recordar, tomar a cadeia de eventos a partir da extremidade.
4. Como anotar, como classificar e como utilizar as anotações
Há dois tipos principais de notas: as de formação e as de um trabalho específico. Quem anota para formar-se, anota as teses principais do autor; quem anota para uma pesquisa (trabalho) específica, vai a um livro já na intenção de obter uma informação determinada e, portanto, não deve se perder em longas e/ou numerosas anotações. Em ambos os casos, deve-se evitar o excesso do supérfluo.
Prevenido de que não se deve tornar um “colecionador de notas”, é preciso classificá-las de acordo com a utilidade. Há algumas propostas:
Anotações no livro: quem possui o livro, pode anotar nele mesmo. Assim, após ler um capítulo, você deve ser capaz de remontar as partes principais do argumento tratado nele. Então, no início ou no final do capítulo (onde houver mais espaço), anota-se: i) o seu assunto central e, ii) em esquema de tópicos, a estrutura da argumentação do autor/escritor.
Esquema de resumo: quem não é dono do livro, pode fazer o esquema acima num caderno à parte. Nesse caso, escreverá na seguinte ordem: i) título do livro; ii) número e título do capítulo; iii) assunto tratado no capítulo; iv) argumentação do autor, em esquema de tópicos; v) se necessário, anotar o argumento completo do autor nas partes mais complexas.
Esquema de fichas/post-it: também é possível realizar as anotações em fichas ou adesivos post-it, que serão deixados/colados no próprio livro ou numa pasta à parte. A organização pode ser padronizada por você mesmo.
Quando for realizar um trabalho específico e necessitar recordar daquilo que estudou, terá suas fichas/anotações classificadas e guardadas, esperando apenas para serem consultadas e refrescar a memória. Essas, é claro, são as minhas propostas, mas existem outras. Cada um examine o que lhe é mais produtivo.
5. Considerações Finais
Este breve e simplíssimo artigo é apenas um auxílio para quem busca ordenar melhor seus estudos e retirar maior proveito.
E não esqueça que o repouso é necessário! Uma mente cansada tem dificuldades em trabalhar. Quem se dedica ao estudo e esquece dos demais aspectos da vida, ignora que a verdade é o próprio Ser das coisas e que o contato com o mesmo não se dá somente pela via intelectual, mas por toda a integralidade de sua existência.
Notas
SERTILLANGES, A-D. A vida intelectual. Campinas, SP: Kírion, 2019, p. 136.
Ibidem, p. 152-160.
Ibidem, p. 161.