O conceito de Verdade segundo Tomás de Aquino
Tomás de Aquino escreveu toda uma obra, o De Veritate, para tratar sobre a verdade. Entretanto, este artigo se limita a expor, de maneira simples e direta, o conceito de verdade que ele expõe na questão 16 da Primeira Parte da Suma Teológica.
Embora mencionada indiretamente, e pressuposta para a possibilidade de conhecer, não é nosso intento expor a tese fundamental da abstração por fantasmas do Aquinate — esse é um tema para outro momento. Nas breves palavras que se seguem, nos damos por satisfeitos em desenvolver o conceito de verdade.

A verdade é a adequação entre a coisa e o intelecto — esta é a tese fundamental defendida por Tomás de Aquino. Porém, como ele mesmo o demonstra na Suma Teológica (Ia, q. 16, a. 1, sol.), tal definição pode ser entendida de dois modos.
No primeiro modo, a coisa se adequa ao intelecto porque dele depende para receber a existência: é o caso da casa, que depende do projeto preconcebido na mente do arquiteto e posto em prática no momento da construção; essa casa será verdadeira casa à medida em que se assemelha à ideia de casa e ao projeto que a concebeu.
Interessante notar, ainda em relação a esse primeiro modo, que os entes vivos (como o homem e os animais) são verdadeiros à medida em que se assemelham à ideia preconcebida na mente do seu “arquiteto” ou, melhor dizendo, Deus, o Primeiro Motor. Disto poderíamos afirmar, não sem algum grau de incerteza, que o homem se torna ainda mais um verdadeiro homem à medida que atualiza adequadamente suas potências, cresce nas virtudes e se aproxima da ideia de homem perfeito — mas isso é um pequeno parêntese.
Quanto ao segundo modo, o intelecto se adequa à coisa, abstraindo suas notas características e, prescindindo das notas materiais, formulando um juízo. Tal é o caso de alguém que observa a construção projetada pelo arquiteto (do exemplo anterior) e, abstraindo suas características, chega à rápida conclusão de que se trata de uma casa.
Nesse modo secundário, denominado por Aquino como uma relação acidental, o intelecto se adequa à coisa porque procura tornar-se um com ela, de maneira que a mantenha presente consigo de modo imaterial; como se um fantasma da coisa permanecesse na mente. Analisando esse “fantasma” em sua abstração, a pessoa formula um juízo que será verdadeiro à medida em que corresponde à coisa real.
Cabe observar que, independente do modo, a verdade está sempre em referência ao ser. No primeiro modo, uma coisa só é verdadeira porque recebeu o ser, isto é, a existência; e, no segundo modo, um juízo qualquer sobre algo só pode ser verdadeiro porque traz consigo o ser da coisa a que se refere. A verdade é, assim, um aspecto do ser; aspecto que surge quando o ser está em contato com uma inteligência.
O ser, a verdade e o bem são conversíveis entre si. Tudo o que existe é ser; a verdade trata da inteligibilidade do ser por um intelecto e o bem é o aspecto apetecível desse ser, sendo que a verdade é objeto do intelecto e o bem é objeto da vontade.
Bibliografia
SANTO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica – Vol. 1. Ia Pars. Tradução Carlos-Josaphat Pinto de Oliveira. São Paulo: Edições Loyola, 2005.